A trajetória de Dom Helder Camara: uma interpretação figural

Walter Praxedes

Nair Camara, irmã dois anos mais nova que Helder, em um rascunho de um relato escrito de memória no início da década de 1990, quando já se encontrava próxima dos 80 anos, conta-nos um pouco da história da família, apresentando algumas informações que ajudam a entender as impressões que os familiares e amigos tinham do menino e depois jovem padre Helder Camara:

 “O filho do Sr. João Camara, Helder Pessoa Camara, parece ter vindo de uma “Corte Celestial” pela sua pureza, nobreza, castidade, humildade, sinceridade, lealdade e caridade, incluindo a sua inteligência fora do comum. Em criança foi um menino exemplar, carinhoso, meigo, obediente e estudioso. Brincava como toda criança, porém o que mais gostava era de brincar de bolinha de gude e com santos, fazendo altar e depois que chegava da “Escola da Salomé”, e deixava os seus deveres em dia, no meio da criançada de sua rua inventava estórias fantásticas tipo “gibi”. Estórias sempre renovadas que encantava a todos que lhe ouviam.[…]

Dom Helder ordenou-se se não me engano no dia 15 de agosto de 1930 [na verdade 1931]. Eu era muito pequena, mas o admirava. Eu tinha umas vizinhas muito religiosas que me levavam todas as vezes que ele ia celebrar por perto, não só missa, como novenas. Quando eu estudava no Colégio de Dona Dorothéia, ia com a minha professora Esther Fiúza às novenas na Igreja do Patrocínio, ou fazíamos parte do coro. Na minha inocência eu me sentia um anjo, assistindo aquele Santo Padre falando de Santa Terezinha e nós cantávamos: Derramai vossa chuva de rosas, Terezinha excelsa [da Pátria e do amor”

Os fãs de Dom Helder o chamavam “O pequeno Grande São Francisco de Assis, Santo Padre que convertia até ateus com a sua palavra sacra”.

É evidente que este é um relato amoroso da irmã mais nova de Dom Helder, uma senhora que quando conhecemos já contava com mais de oitenta anos, mas que revela como os familiares e amigos tinham uma percepção de Helder como alguém com um jeito de ser próprio e características bem particulares. O relato revela também como a forma de pensar da irmã e dos amigos de Helder se aproximava de uma interpretação figural bíblica para atribuir a Helder a encarnação de um santo como São Francisco de Assis. Muito cedo nasceu esta identificação de Helder com a figura de São Francisco de Assis e que o acompanhará por toda a vida.

Uma interpretação figural do pensamento, da vida e da ação pastoral de Dom Helder Camara pode ajudar-nos a entender porque, passados quase duas décadas da sua morte, ocorrida em 27 de agosto de 1999, depois de iniciado o seu processo de beatificação e canonização, em 2015, e tendo recebido a autorização oficial da Congregação para a Causa dos Santos do Vaticano, que o declarou “Servo de Deus”, a Arquidiocese de Olinda e Recife, comandada pelo Arcebispo Dom Antônio Fernando Saburido, celebra em 19 de dezembro de 2018 a Sessão de Encerramento do Processo de Beatificação e de Canonização de dom Helder Camara, no Palácio dos Manguinhos, sede da Cúria Metropolitana, em Recife .

De acordo com a página oficial da Arquidiocese de Olinda e Recife na Internet, “concluída a chamada “Fase Diocesana”, sob direção do Postulador da Causa de Dom Helder Camara Frei Jociel Gomes, “a documentação é remetida para a Congregação da Causa dos Santos, onde os documentos, laudos, pareceres e testemunhos coletados serão analisados por comissões, e será elaborada a “Positio”, dando início, assim, à chamada “Fase Romana” do processo”. Na “Fase Diocesana” a Congregação das Causas dos Santos “exige que o candidato a santo tenha operado um milagre e que este seja comprovado”. Após a comprovação do milagre pelo Vaticano, o milagreiro é “declarado “Beato” e pode ser cultuado na região em que já tem fama de santidade”. Para a conclusão do processo de canonização é necessária a comprovação de um outro milagre. “Ele tem que ser a resposta de uma oração feita por um fiel ao candidato morto e não uma ação em vida”, explica Rodrigo Franklin de Sousa, coordenador de ciências da religião da Universidade Mackenzie (SP). Vencida a etapa, o santo é apresentado pelo papa para o culto da Igreja mundial. É necessário confirmar inclusive a real existência do candidato a santo. Para isso, uma exumação do corpo é solicitada.”

O sobrenatural no cotidiano

Quem conheceu pessoalmente Dom Helder Camara, presenciou seus sermões e homilias ou assistiu a uma de suas conferências, palestras, entrevistas, mensagens transmitidas pela televisão ou pelo rádio, certamente pode perceber o modo próprio com que ele expressava o seu pensamento, geralmente abordando de forma entusiasmada e otimista um problema da sociedade ou uma situação difícil vivida pelas pessoas, buscando encontrar um significado sobrenatural e cristão por trás da aparência dos acontecimentos.

E não havia para Dom Helder um tema que não fosse digno de constar em sua pregação, desde os problemas mais simples e cotidianos até aqueles que envolviam toda a humanidade ou a busca da salvação, da mesma maneira como Santo Agostinho, em A Trindade, recomendava aos pregadores cristãos que os grandes mistérios da fé fossem apresentados em linguagem simples e acessível a todos: “… a santa Escritura, acomodando-se aos pequenos, não evitou expressões designando esse gênero de coisas temporais, mediante as quais nosso entendimento, como que alimentado, pudesse ascender por degraus, às coisas divinas e sublimes.” (Santo Agostinho, 1994, p. 24)

Dentre incontáveis exemplos desta relação que Dom Helder estabelecia entre o dia-a-dia dos fiéis e o plano sobrenatural de busca da salvação, recordemos as suas palavras no programa “Um olhar sobre a cidade”, transmitido pela Rádio Olinda em uma segunda feira, dia 28 de julho de 1975, uma semana após uma grande enchente que ocorreu na cidade de Recife:

Meus queridos Amigos,

Passada a 1ª semana depois da Cheia, venho dividir com os queridos Rádio ouvintes, tristezas e consolos, angústias e esperanças que ficam de um balanço de quem tenta mergulhar na realidade que aí está diante de nós.

Quem vai áreas como o Formigueiro, Cajá, Alvinho, Campina dos Coelhos (e seria fácil citar dezenas de outras) encontra os Pobres em plena reconstrução dos Mocambinhos que ficaram de pé, embora esqueleto só e com partes inteiras derrubadas. E ainda há quem pense e diga que nossa Gente é preguiçosa… Que coragem! Que Fibra! […]

O Pai que imaginava que os filhos já nem fossem Cristãos, comoveu-se vendo os Rapazes jogarem-se n´água, arriscando a vida, para salvar Criaturas que se afogavam.

Quem não viu cenas tristes, mas também quem não soube de episódios profundamente consoladores como os lembrados aqui!?… Alimentemos a chama de nossa dedicação cristã, porque a reconstrução vai exigir de todos nós – Governo e Povo – muita dedicação e muito sacrifício.

O maior consolo que sinto, em meio de tanta angústia, é ver unidos, como irmãos, no mesmo esforço de ajuda fraterna, católicos e protestantes de todas as Agências de Serviço.

Sem vaidade, sem exclusivismo, os Cristãos temos um mesmo anseio: tentar ser a presença viva de Cristo no meio do sofrimento!

Na mensagem que Dom Helder quer transmitir não há separação entre os acontecimentos terrenos provocados por uma enchente, que desestrutura as condições de vida das pessoas atingidas, e a busca de redenção através da ação coletiva coordenada em prol do bem comum em meio a todo o sofrimento. A fala tem uma aparência simples, pois visa ao entendimento de todos os ouvintes, que se encontram nas mais diferentes condições sociais e graus de escolaridade, mas sua mensagem de fundo tem um conteúdo sublime que é a união de todos e a busca da salvação. O estilo adotado por Dom Helder quando se dirigia aos seus ouvintes ou leitores buscava eliminar todas as barreiras que impedissem a comunicação de sua mensagem pastoral, adotando uma forma simples de expressão e um tom afetivo.

O ouvinte ou leitor concebido por Dom Helder é um irmão e amigo conclamado a participar ativamente de sua pastoral comunitária, não por acaso denominada “Encontro de Irmãos”, com a missão de ajudar a transformar as condições de vida de todos os que sofrem na terra e para que todos possam um dia viver como irmãos ao lado do Cristo. Por isso ele se dirigia a todos que o ouviam ou liam como um pastor e profeta que se preocupa com o corpo e com a alma dos fiéis em uma ordem terrena que deve ser o prenúncio de uma ordem celestial.

A partir da leitura das cartas circulares redigidas nas suas vigílias, poemas e até mesmo nos pequenos bilhetes dirigidos aos seus colaboradores, familiares e amigos; como também nas anotações pessoais e nos documentos oficiais, artigos e conferências que subscreveu e proferiu ao longo de sua trajetória como sacerdote e arcebispo católico, Dom Helder colocava em prática aquele ensinamento de Santo Agostinho em seu tratado A Doutrina Cristã, que indicava que quando discorremos “… a respeito da linguagem capaz de ensinar as verdades que nos preservam dos males eternos e nos fazem chegar à felicidade sem fim, recomendamos-lhes que considerem como grandes assuntos as questões que ele tiver de tratar em qualquer parte, seja diante do povo, seja diante de círculo íntimo, seja diante de uma única pessoa ou diante de muitos, seja diante de amigos ou inimigos, seja num discurso seguido ou numa conversa, seja em opúsculos ou em livros, seja em cartas longas ou brevíssimas.” (Agostinho, 2002, p. 244-245)

E Dom Helder apresentava os seus argumentos na posição de um ser humano religioso de confissão cristã católica que trazia tanto no seu interior como expressava nas suas manifestações orais e escritas, nas ações cotidianas e no seu apostolado, alguns pressupostos religiosos próprios do cristianismo, formados desde a sua educação familiar e de seminarista, com a assimilação da mensagem dos evangelhos, da filosofia e literatura católicas, para responder às necessidades do momento presente. E sua fala era animada para contar um acontecimento pitoresco e despertar o riso, ou concentrada para comentar uma situação grave, mas sempre afável, na tentativa de afastar quaisquer distâncias que pudessem existir entre ele e seus ouvintes ou leitores. Fazia isso dirigindo-se a alguém em particular, para solicitar uma opinião ou um testemunho, ou sentando no chão com as crianças para manter com elas uma comunicação horizontal.

O próprio Dom Helder reconheceu em um texto em que fez uma reflexão sobre as próprias ideias, redigido no início da década de 1970 com o título “Como mudou meu pensamento”, que não se considerava portador de um pensamento novo e original, afirmando: “Deus sabe que estou convicto de nada ter de original como pensamento. Estou a serviço de umas tantas ideias que me parecem dignas de abrir caminho e pelas quais aceito, gostosamente, sofrer. Se me dão uma chance de focalizá-las, não me calo: minhas ou de outros, o importante é que elas sejam difundidas”.

A encarnação, o mistério da palavra que se transforma em carne, com o próprio Deus se tornando homem, é uma doutrina fundamental do cristianismo que Padre Helder comungava com uma fé fervorosa. Um dos meios que utilizou a vida toda para manifestar este fervor foi a poesia, considerada por ele como uma maneira de expressar as verdades do seu interior, por combinar a busca da beleza e da verdade divina através da expressão verbal. O seu estilo poético sempre foi o da adoção de uma escrita simples, transparente e compreensível a todos para expressar o sublime. Assim podemos ler em dois pequenos poemas escritos no início da década de 1950 transcritos a seguir:

Hino à Encarnação

O Verbo de Deus

– um dia se fez homem

– foi a suprema Encarnação

Notei encantado

Que tudo em volta de mim

Realiza um pensamento divino.

E escutei comovido

O hino das humildes encarnações

À grande Encarnação.

 

            Corpo Místico

Que medo pode causar-me

A encarnação de cada dia

E a morada entre os homens,

Se em mim

Apenas se prolonga

– de modo incompleto e humílimo –

A Encarnação do Verbo de Deus?

 

Este aspecto fervoroso da fé e da pregação de Dom Helder foi uma característica sua desde os tempos de seminário, na década de 1920, em Fortaleza, e com o passar dos anos, após sua ordenação sacerdotal em 1931 e episcopal em 1952 se intensificou ainda mais, em uma época em que paradoxalmente se ampliava o consumismo e a abrangência da indústria cultural nas sociedades capitalistas ocidentais, modernizando e liberalizando os costumes, promovendo o individualismo. O paradoxo a que chamamos a atenção do leitor é o da relação entre o pensamento e o apostolado de Dom Helder, que intensifica seu retorno às fontes evangélicas do cristianismo nos anos 1950, 60 e 70, em um mundo que parecia cada vez mais se afastar da mensagem cristã.

Desde muito jovem Helder buscava encarnar as virtudes cristãs, realizando orações e penitências, às vezes até recorrendo a jejuns e mortificações, mantendo nos seus relacionamentos com os homens e mulheres com quem convivia cotidianamente de uma forma afetiva, cordial e sublime e meditando de forma poética sobre a ajuda divina de que necessitava para resistir às tentações internas, como podemos ler em um poema do início dos anos 1950:

            Adelgaça-me

Purifica-me

Tu que tudo vês

Até as últimas dobras

Dos mais escondidos pensamentos,

Sabes que não estou pensando em mim

Só quero ser transparente

Só sonho ser translúcido

E para evitar

Que o meu barro

Esconda tua Luz! 

Este poema em forma de oração segue de perto o ensinamento presente em Marcos (14, 38) que recomenda aos cristãos “vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca”.

O apego à mensagem do evangelho que o faz buscar coerência entre sua voz e sua consciência, também o torna crítico em relação aos problemas religiosos e às condições sociais, políticas e econômicas em que viviam as populações marginalizadas do Brasil e do então chamado Terceiro Mundo. As suas críticas aos problemas existentes são sempre otimistas e jamais céticas, embora não se possa dizer de Dom Helder que ele fosse um missionário ingênuo ou manipulado. Sagrado Bispo em 1952, assediado pelas elites dirigentes, Dom Helder poderia simplesmente ter se acomodado para o resto da sua vida em sua posição de dignitário católico, mas, ao contrário, ele recusa uma posição confortável na estrutura social para se dedicar à busca de soluções para os problemas religiosos, sociais e políticos de seu tempo.

Ao repensarmos sua trajetória, como jovem seminarista e sacerdote, Helder comungava interiormente com o modo de ver e interpretar a realidade cotidiana segundo um ângulo de visão próprio do cristianismo antigo. E com esta afirmação não estamos negando possíveis incoerências, contradições e conflitos entre intenções e gestos vividos por Dom Helder, e sim enfatizando a busca da coerência entre os pressupostos religiosos cultivados por ele e suas condutas e manifestações privadas e públicas. Desde a sua juventude, nos momentos mais críticos, quando se encontrava próximo do desespero, Helder se recolhia e “fugia para rezar”, pedindo ao Espírito Santo uma visão sobrenatural que iluminasse a situação vivida.

Desde que mudara para o Rio de Janeiro no final da década de 1930 Nair Camara morava com o irmão, então Padre Helder, carinhosamente apelidado de Padrezinho, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, e depois da mudança deste para o Recife em 1964, manteve o seu quarto conservado como um verdadeiro santuário pelo resto da vida, com a cama arrumada como se ele viesse à noite para dormir, alguns pertences e batinas no guarda roupas e inúmeros livros em uma estante. Nair inclusive esteve presente na cerimônia de sepultamento de Dom Helder.

Dom Helder retribuía este carinho que recebia da irmã com a mesma intensidade e dedicação, visitando-a sempre que conseguia, ou viabilizando que a irmã viajasse para visitá-lo em Recife. Em uma carta escrita por Dom Helder já com os seus 82 anos, temos contato com a forma íntima, carinhosa e cuidadosa como ele se dirigia à irmã:

Recife 23.9.1991

       Maninha querida

Por favor, entregue em meu nome, esta carta a nossa Amiguinha Leda. Gostaria de estar aí, para estar com ela, neste instante difícil.

E você com vai passando?

Pelo Amor que Você teve, tem e terá sempre

À Mãezinha

Ao Paizinho

Ao Luís

A mim

Traga-me sempre informado

– de sua saúde e de sua situação de dinheiro.

Ficarei muito triste se descobrir que você está passando necessidade, por falta de dinheiro.

Você, hoje, encarna para mim

– a Magaidinha

– o Paizinho

E você mesmo, sobrevivente querida, quando tanto partiram!…

Que Deus a guarde e proteja sempre mais!

Que o Luís já esteja na Casa do Pai – como eu tenho certeza.

Padrezinho

A forma carinhosa de se relacionar com a irmã também se estendia aos seus outros familiares, pai, irmãos, parentes e amigos. Quando Padre Helder completou 19 anos de sacerdócio o pai escreveu-lhe uma carta demonstrando não só carinho, mas também um profundo respeito pela vida sacerdotal do filho, revelando-nos assim como havia uma expectativa de que ele continuasse a encarnar de forma santificada os valores mais sublimes atribuídos ao cristianismo católico. O tom da carta é afetivo, mas o estilo é de uma escrita com linguagem formal e até exuberante, o que nos faz recordar que o Sr. João Camara atuara como jornalista na juventude, redigindo artigos de crítica literária e teatral para o jornal que era comandado pelo avô de Helder, entre o fim século XIX e os primeiros anos do século seguinte.

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Meu Filhinho

Pelo muito que lhe quero desejaria viver ainda por longos anos para ter o prazer de oferecer-lhe, nesta data, uma lembrancinha qualquer, que, modestamente, embora pudesse exprimir toda a minha alegria pelo transcurso anual Desta abençoada data, que assinala o início da sua gloriosa carreira sacerdotal em que, até hoje, graças a Deus, jamais por qualquer motivo foi excedida em zelo e santidade.

Que as bênçãos do Bom Deus continuem a jorrar o fluxo sobre sua abençoada fronte, para que prossiga sempre com passo firme e intenção reta que sua edificante e santificadora jornada, são os mais ardentes votos de seu velho pai, quando já prestes a ir conhecer, de perto, os infinitos e insondáveis mistérios do Além-túmulo.

Em rememoração do advento desse grande Dia, consagrado à Terça e Santíssima, Parabéns para mim, a Você, de quem espero a graça de receber a Santa Hóstia em sua intenção, para que Deus o abençoe, ilumine, proteja e guie em todos os seus passos, pensamentos, obras e palavras. Estes são os anseios do amantíssimo coração de seu muito ditoso pai.

Rio, 15 de Agosto de 1950.

João Câmara

Padre Helder correspondia a este carinho recebido do seu pai, como podemos perceber numa carta que lhe escreve no ano seguinte. Sempre estava presente na sua escrita a expressão de sua religiosidade. Para entendermos melhor esta correspondência íntima trocada entre pai e filho, também é preciso recordarmos que ambos moravam no mesmo apartamento em Botafogo, na rua Francisco de Moura, na entrada do Morro Santa Marta, convivendo rotineiramente, e mesmo assim se sentiam motivados a registrar por carta a afeição e o respeito de um pelo outro, como podemos ler em uma carta escrita ao pai em 1951, então com 79 anos, quando o filho estava com 42.

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Rio, 27.12.1951

       Querido Paizinho

O Senhor já se viu diante de um absurdo de carinho? A razão quer chamar contra o absurdo, mas o coração nos lembra quanta bondade, quanta fineza a agradecer.

Deus lhe pague, Paizinho!

Como as suas delicadezas de pai me falam da bondade infinita do Pai Celeste!

Que Ele – pai comum de todos nós – o cubra de bênçãos e encha ainda mais sua “maleta” para a Grande Viagem que todos teremos de fazer!

Abençoe, também o Senhor o seu filho agradecido

Padrezinho           

O amor filial e a religiosidade estão expressos em um estilo sublime nesta carta. Nesta troca de correspondência entre pai e filho não aparece nem insinuação de um possível conflito, mas sim uma comunhão que revela a tradicional associação bíblica entre o pai terreno e o pai celestial. Talvez seja difícil pensar em uma forma de comunicação mais sublime do que esta em termos de valores morais e gentilezas, superando os conflitos cotidianos. Padre Helder, o Padrezinho, vê nas bênçãos paternas os sinais das bênçãos divinas, tornando sublime a convivência cotidiana, a exemplo da relação entre Pai e Filho nos evangelhos, que supera todas as distâncias entre a vida terrena e a vida celestial.

Humilhações

O assassinato do Padre Antonio Henrique Pereira Neto, em 26 de maio de 1969, pode ser recordado para entendermos como um acontecimento histórico específico é interpretado por Dom Helder como fazendo parte da perspectiva religiosa universal do cristianismo, representando uma escolha de Deus para a realização dos seus desígnios insondáveis. Tendo celebrado a cerimônia de sua ordenação sacerdotal no Natal de 1965, Dom Helder considerava o padre Antonio Henrique como um filho. Depois de todo o seu sofrimento e combate pela justiça contra a impunidade dos responsáveis pelo assassinato, na sua vigília da madrugada do dia 24 de agosto de 1969, Dom Helder redige com amargura e resignação um poema que interpreta o trágico episódio como um acontecimento terreno que representa um momento já prenunciado do plano divino do texto bíblico, que é o sacrifício de Isaac por seu pai Abraão. Recordemos as palavras do próprio Dom Helder em um poema:

Ele me prometeu

Que minha descendência

Seria numerosa

Como as areias da praia

E as areias do céu…

Sabe-me velho

E me pede o holocausto

Do filho único.

Estou no momento exato

Em que amarrei o meu filho ao lenho

E vou erguer a espada para imolá-lo.

Se entrar nos planos divinos,

Apenas experimentar-me

E suspender-me o braço,

Não digo

Que não exultarei…

Se houver o mistério de a suspensão não vir,

Fecharei os olhos

e imolarei

implacável e confiantemente,

o meu Isaac!

Como Abraão, Dom Helder se submete às ordens divinas, sabendo que o seu apostolado de defesa dos direitos humanos e denúncia contra as torturas e ações terroristas dos grupos paramilitares que apoiavam o regime político no poder, provocava retaliações contra os seus colaboradores. Em 28 de abril de 1969, um mês antes do assassinato do padre Antonio Henrique, o estudante Candido Pinto de Melo havia sido baleado e a sede do Secretariado da Arquidiocese de Olinda e Recife e da Cúria metropolitana fora metralhada durante a madrugada. Como subscreveu na nota divulgada pela Arquidiocese, “Que o holocausto do Pe. Antônio Henrique obtenha de Deus a graça da continuação do trabalho pelo qual doou a vida e a conversão do seus algozes”. Para Dom Helder somente Deus sabia o sofrimento e o desespero com os quais ele se mantinha fiel à sua missão.

Uma das características de dom Helder era essa sua capacidade de interpretação sobrenatural da realidade imediata sem tentar escapar ou esquecer suas consequências práticas e muito menos as responsabilidades que tinha como cidadão e pastor. Na sua pregação e nos seus atos buscava sempre a superação efetiva dos problemas da realidade, como o fez no depoimento ao inquérito sobre a morte do Padre Antônio Henrique, redigido no dia 14 de abril de 1975 e prestado à Secretaria de Segurança Pública do Estado de Pernambuco e sua Delegacia de Homicídios, em que apela às autoridades para que investiguem a atuação do grupo terrorista denominado CCC – Comando de Caça aos Comunistas: “sob a fé do meu Sacerdócio, levo ao conhecimento da Segurança do Estado de Pernambuco e das demais Autoridades da Segurança Federal que, anunciado pela Imprensa, pelo rádio e pela TV, que eu seria convidado a depor no processo do Pe. Henrique, na 4ª e 5ª feiras da Semana Santa, recebi, pelo telefone, avisos de dever falar com extrema cautela, se eu não quisesse perder mais um de meus Padres. Os telefonemas concluíam: “Quem avisa é o velho CCC, agora redivivo no Gorilão”. Tratar-se-ia de trote? Será que o CCC cobriu-se de novo nome, mantendo o mesmo espírito e os mesmos métodos?”

O sofrimento de Dom Helder com a cruel perseguição aos seus colaboradores cotidianamente representava para ele que, mesmo se dedicando à realização da vontade divina revelada nos evangelhos, como um ser humano falível estava sujeito à desgraça e à humilhação, como a partida do seu Estado natal, para começar nova vida no Rio de Janeiro, as calúnias e difamações de que fora vítima e, depois de um longo e frutuoso apostolado na Arquidiocese do Rio de Janeiro, o seu afastamento indesejado da sua  querida Família Mecejanense e da cidade que o acolhera.

À morte prematura de seu amigo o Núncio Apostólico dom Armando Lombardi, após o Golpe Militar, seguiram-se as duras acusações recebidas do Tribunal do Santo Ofício em dezembro de 1964.

Em 1969 Dom Helder é aconselhado pela Secretaria de Estado do Vaticano a voltar-se prioritariamente para o trabalho na sua arquidiocese e evitar as viagens internacionais. Dom Helder interpretou a censura recebida do vaticano, em pleno pontificado do seu amigo Paulo VI, “com a sensação angustiante de uma facada no coração”.

Em Recife, desde 1968 já era sabido e divulgado pela imprensa local que a Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) o havia “fichado” e o vigiava de perto, seguindo-o em todos os lugares, fotografando-o, grampeando seus telefonemas e monitorando sua ação pastoral, como ficou comprovado pela Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Camara em 2014.

Pessoalmente Dom Helder também sofria com a perda de algumas pessoas com as quais compartilhava a sua vida e apostolado. A sua antiga secretária e amiga Cecília Goulart Monteiro, carinhosamente chamada por ele de Frei Leão, porque como sua colaboradora tinha como missão velar pela “santificação de Frei Francisco”, falece após um atropelamento no Rio de Janeiro, em outubro de 1977, deixando-o profundamente abalado, sem ânimo sequer para escrever as “Circulares” em suas vigílias. No ano seguinte ocorreria a morte de Paulo VI, não menos sentida por Dom Helder.

Todos estes momentos dramaticamente sentidos por Dom Helder ocorreram quase que simultaneamente ao reconhecimento internacional de sua ação apostólica. Na década de 1970 Dom Helder se viu transformado em uma celebridade mundial, chegando a ser indicado quatro vezes para a premiação com o Nobel da Paz, o que não ocorreu em virtude da campanha contrária de que fora vítima, mas recebendo inúmeros prêmios, títulos e homenagens no mundo todo. Como se a vontade divina para se realizar necessitasse que Dom Helder constantemente tivesse que passar por experiências de humilhação e exaltação, em uma oscilação pendular do seu destino.

No poema “Deixa-te devorar”, Dom Helder expressa como ele interpretava estas situações limites em que muitas vezes se encontrava:

Deixa que te arrebentem

Todo o tempo

E te prendam,

E te triturem

E te devorem…

Não fazemos o mesmo

Com Jesus Cristo

Cada manhã?

Desde o seu início o cristianismo teve que lidar com o martírio dos seguidores de Cristo, gerando por isso uma mística da Paixão que chegou até nossos dias. As palavras de Dom Helder revelam-nos o seu acolhimento a este ideal de sofrimento sublime, como já ocorrera com inúmeros mártires e com o próprio Francisco, o santo que o guiava e que passou pelo “milagre da estigmatização”.

Em 1980, quando esteve em Recife, o Papa João Paulo II o saudou como “Irmão dos pobres. Meu irmão”. Mesmo assim, quatro anos depois, quando se aposentou na Arquidiocese de Olinda e Recife não conseguiu que o Vaticano nomeasse para sucedê-lo um dos seus fiéis colaboradores, Dom Marcelo Carvalheira ou seu bispo auxiliar dom José Lamartine Soares, que continuariam a sua obra pastoral. Ao contrário, o arcebispo nomeado pelo Vaticano para o seu lugar à frente da Arquidiocese, desde o primeiro momento atuou deliberadamente e de forma ostensiva para destruir o seu legado pastoral.

É muito difícil para qualquer ser humano entender estas reviravoltas tão frequentes na própria vida. Mas, para a compreensão sobrenatural que Dom Helder tinha da realidade, todos os acontecimentos faziam parte de um plano divino.

A humilhação era para Dom Helder um ensinamento que recebia de Deus “para entender as fraquezas dos outros e agradecer ao Pai a caminhada feita”. E uma das maiores humilhações que ele havia sofrido, segundo palavras redigidas por ele no texto “Como mudou meu pensamento”, em um tom de confissão de um pecado que lhe causava grande arrependimento, foi ter participado da Ação Integralista Brasileira (AIB) em sua juventude: “Para minha humilhação (Tu és bom porque me humilhaste”)… devo confessar que, ao ordenar-me sacerdote, em 1931 (com 22 anos e meio) me fiz integralista (fascismo brasileiro).”

Aprender com as humilhações sofridas é uma ideia importante na história do cristianismo. Inúmeras figuras bíblicas também tiveram que passar por grandes humilhações, a exemplo do que ocorrera com Adão, o primeiro homem criado por Deus à sua imagem e semelhança, depois expulso do Paraíso, ou Jacó vivendo como um fugitivo, José vendido como escravo, as seguidas humilhações sofridas por Jó, e o próprio filho de Deus em sua encarnação humana sendo açoitado em público e crucificado. Segundo a interpretação do crítico literário Erich Auerbach, estudioso das narrativas bíblicas, “percebe-se claramente como a amplidão da oscilação pendular está em relação com a intensidade da história pessoal – justamente as situações extremas, nas quais somos abandonados ou lançados ao desespero extremo, nas quais além de toda medida, nos sentimos felizes ou exaltados, conferem-nos, quando as superamos, um cunho pessoal que se reconhece como resultado de um intenso desenvolvimento, de uma rica existência”. (Auerbach, 2013, p. 15)

A figura de São Francisco de Assis

A origem social familiar de classe média urbana e intelectualizada de Dom Helder não o impediu de se identificar com a pobreza e com o ideal de uma vida simples, aproximando-se das pessoas mais necessitadas, e de lutar por uma Igreja servidora e pobre. Essa sua identificação com a pobreza foi uma forma pessoal de vivenciar a encarnação de Deus em um ser humano com uma origem social muito simples, que peregrinava pela terra nas mais difíceis condições, convivendo com pessoas muito pobres, doentes e estigmatizadas socialmente e que, depois, ainda foi açoitado publicamente, escarnecido e crucificado.

Além do próprio Cristo, o mesmo se pode dizer de Pedro, um humilde pescador do lago Genesaret na Galileia, sem educação erudita, mas que foi convertido em fundador do cristianismo. Erich Auerbach interpreta que essa origem popular do cristianismo contribuiu para que nascesse uma ética da humildade e da valorização das pessoas simples, uma vez que “Cristo apareceu não como herói ou como rei, mas como um homem da mais baixa extração social; os seus primeiros discípulos foram pescadores e artesãos, movimentava-se no mundo cotidiano do povo palestino, falava com publicanos e prostitutas, com pobres, doentes e crianças; e nem por isso suas ações e palavras deixaram de ter a mais elevada e a mais profunda dignidade; foram mais importantes do que tudo o que aconteceu em qualquer outro tempo” (Auerbach, 2013, p. 61).

Para Dom Helder viver segundo o Evangelho significava encarnar essa origem popular do cristianismo, que tornava a ética da humildade e o estilo de vida simples e despojado, em elementos importantes do ideal de santidade cristã que incorporara desde jovem. Por isso a figura de São Francisco, com o seu casamento com a pobreza, é aceita por Helder como guia para a vida terrena que antecipa a vida celestial. O Francisco de Assis representava, assim, a encarnação da plenitude que conduziria à presença de Cristo.

Inspirado em São Francisco de Assis, Dom Helder concebe para si a missão de profetizar o retorno a uma Igreja Servidora e Pobre, de acordo com os princípios que orientaram o famoso “Pacto das Catacumbas”, no qual participa da celebração com um grupo de padres e bispos no final do Concilio Vaticano II, na Igreja de Santa Domitila, em 16 de novembro de 1965. À frente da Arquidiocese de Olinda e Recife Dom Helder escolheu uma vida de simplicidade e despojamento, deixando de morar em palácio para viver em um pequeno quarto no fundo da Igreja das Fronteira, se deslocando muitas vezes a pé ou de carona, testemunhando, assim, com a própria vida o seu compromisso com o “Pacto da Catacumbas”.

A presença de São Francisco no mundo foi um acontecimento histórico interpretado pelos seus seguidores e por Dom Helder como prenuncio de outros acontecimentos históricos concretos. Por isso, em seu apostolado ele buscava colocar em pratica os ensinamentos de Francisco, encarnando a verdade anunciada pelo santo de Assis. Considerando Francisco como um precursor, encarnando-o em sua vida através de sua palavra e da sua ação, Dom Helder se legitimava dentro e fora da instituição católica para trabalhar em defesa dos pobres. Da perspectiva de muitos dos seus colaboradores, dos fiéis católicos e dos admiradores de todas as religiões espalhados pelo Brasil e pelo mundo Dom Helder preenche a demanda que muitas vezes sentimos por uma força messiânica, que encarne na vida real a figura de um líder religioso e até político com uma espiritualidade profunda e com um senso de realidade histórica para anunciar que um novo mundo é possível, inspirando e mobilizando muitos que estão insatisfeitos com o mundo existente.

Missão temporal

Desde a década de 1940, Dom Helder, então ainda Padre Helder, realizou um apostolado para que os católicos, leigos e sacerdotes não se preocupassem apenas com a salvação das suas almas, mas também com a melhora nas condições de vida dos seus irmãos. Podemos recordar o seu esforço para que os católicos atuassem politicamente em associações, sindicatos, partidos e até em equipes governamentais para a busca de soluções para os problemas sociais do país, para a superação da miséria e da injustiça. Antes mesmo de ser sagrado Bispo, Dom Helder foi o principal artífice da fundação da CNBB. Inspirado pelo famoso lema “Ver, Julgar e Agir”, ele incentivou o engajamento dos movimentos leigos da Ação Católica como a JAC, JEC, JIC, JOC e JUC, em prol da justiça e da democracia em nosso país, lutando sempre em defesa dos direitos humanos, da reforma agrária, enfim, para a construção de condições de vida melhores para os trabalhadores do campo e da cidade.

Após o Golpe Militar de 1964, ele teve a atuação mais visível de denunciar publicamente a prática de tortura em nosso país por agentes ligados ao Estado. Mas ele teve também uma atuação muito importante, embora pouco percebida para quem estava fora da instituição católica e não conhecia a sua vida interna. Dom Helder se manteve como um interlocutor das lideranças religiosas que dirigiram a CNBB e de vários leigos católicos influentes que buscavam um diálogo com os governos militares, procurando evitar o confronto aberto entre Estado e Igreja no Brasil, e promovendo a colaboração para que inúmeras pessoas, aprisionadas clandestinamente por grupos paramilitares, fossem localizadas e salvas dos interrogatórios com uso de tortura e libertadas. Mas ele também colocou em prática uma forma de ação pastoral protagonizada pelos próprios membros das camadas populares, denominada por ele como “Encontro de irmãos”, que funcionavam como as Comunidades Eclesiais de Base. Enfim ele foi uma liderança política e religiosa completa, pois tinha a visão de estadista que articulava tomadas de decisões da Igreja Católica, em âmbito nacional e internacional, e se envolvia diretamente na vida cotidiana das pessoas que mais sofrem em nosso país.

Podemos resumir a atuação de Dom Helder como uma difícil, mas corajosa ação pacífica em favor da justiça, da democracia, dos direitos humanos, que envolvia a denúncia das prisões e torturas, da concentração de renda que então progredia em nosso país, mantendo a tentativa de dialogar com os governantes a fim de influenciá-los para que atuassem a favor do retorno da democracia. A difícil atuação de Dom Helder muitas vezes não era compreendida por setores mais conservadores do episcopado brasileiro e da Cúria Romana, que o criticaram e tentaram limitar suas ações.

Dom Hélder deixou como marca inconfundível da Igreja Católica no Brasil o compromisso com a democracia e com a busca de soluções para os problemas sociais. A participação de sacerdotes e leigos em movimentos sociais e organizações da sociedade civil, a exemplo do que ocorre nos movimentos pastorais e em uma organização importantíssima como a CNBB, e em milhares de Organizações não-governamentais espalhadas pelo país, consideramos como a sua maior herança política. Sua maior herança religiosa foi o ensinamento de que a fé, por mais fervorosa que seja, como era a dele, não se coaduna com a injustiça, com a humilhação e a exploração do outro, enfim, que a fé também pode libertar os seres humanos do fanatismo e da intolerância.

Referências

AGOSTINHO, Santo. A Trindade. São Paulo, Paulus, 1994.

AGOSTINHO, Santo. A Doutrina Cristã: manual de exegese e formação cristã. São Paulo, Paulus, 2002.

Arquidiocese de Olinda e Recife. Arquidiocese convida para conclusão da fase local do Processo de Beatificação de dom Helder. Postado por Anna Beatriz em dez 4, 2018. https://www.arquidioceseolindarecife.org/2018/12/arquidiocese-convida-para-sessao-de-encerramento-do-processo-de-beatificacao-e-canonizacao-de-dom-helder-camara/. Acesso em 16.12.2018

AUERBACH, Erich. Ensaios de literatura ocidental. São Paulo, Duas Cidades; Editora 34, 2012.

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PILETTI, Nelson; PRAXEDES, Walter. Dom Helder Camara – o profeta da Paz. São Paulo, Contexto, 2008.

PRAXEDES,  Walter. Dom Helder Camara e a educação popular no Brasil. Programa de Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, 1997. (Dissertação de Mestrado)