A presença da literatura na obra de Pierre Bourdieu

Walter Praxedes

Introdução

A teoria social construída por Pierre Bourdieu (1930-2002) sintetiza diferentes fontes intelectuais. A literatura é uma dessas fontes que foi combinada de forma criativa pelo sociólogo francês com a assimilação que realizou das obras científicas, filosóficas, artísticas e com a realização de pesquisas empíricas em busca da construção de suas representações sobre a realidade social. Com uma abordagem própria da  sociologia da literatura, discutirei a seguir as possíveis relações entre ciências sociais e literatura na obra de Pierre Bourdieu.

Quando lemos os livros, artigos científicos, textos de entrevistas e conferências de Pierre Bourdieu percebemos a forte influência que a leitura de obras literárias exerceu sobre o seu pensamento e na construção de suas categorias de percepção da realidade, sugestionando-o para a pesquisa de temas e problemas da realidade ou da teoria social e para a elaboração de hipóteses interpretativas. Segundo as palavras de Bourdieu,

“[…] las investigaciones en apariencia más formales de Virginia Woolf, Faulkner, Joyce o Claude Simon me parecen ahora mucho más “realistas” (si esta palabra tiene algún sentido), más verdaderas desde el punto de vista antropológico, más cercanas a la verdad de la experiencia temporal, que los relatos lineales a los cuales nos ha acostumbrado la lectura de las novelas tradicionales” (BOURDIEU; WACQUANT,, 1995, p. 152-153).

Um pressuposto inicial adotado é o de que a literatura tem uma importância e uma incidência muito mais extensiva na formação do pensamento de Bourdieu do que tem sido enfatizado pelos trabalhos dedicados à interpretação de sua obra, mesmo aqueles que tratam direta ou indiretamente de sua sociologia da literatura. A tese de doutorado de Speller (2017), publicada como livro com o título “Bourdieu e a literatura” é um trabalho abrangente que discute detidamente o método de pesquisa em sociologia da literatura presente nos textos reunidos na obra As regras da arte (BOURDIEU, 2002) enfocando desde aspectos epistemológicos até as concepções de políticas públicas educacionais propostos por Bourdieu, levando em consideração a sua recepção por estudiosos que fizeram trabalhos importantes em vários países. Casanova (2002) expande consideravelmente a teoria dos campos para investigar a emergência de uma “República mundial da literatura” sob a influência da literatura francesa desde o século XVI, mas também como reação pós-colonial à chamada “missão civilizadora” da França. Jurt (2004) pode ser considerado o mais entusiasta adepto da abordagem da teoria dos campos sociais ao estudo da literatura, enfatizando a importância da pesquisa sobre a gênese histórica dos campos literários, bem como o efeito que nele exercem as diferentes obras.  Cardoso de Lima (2009), considera a sociologia da literatura de Bourdieu reducionista e inadequada para a pesquisa das várias dimensões de uma obra literária.  Martins (2004) realiza uma síntese da discussão sobre a relevância e os limites do emprego do conceito de campo literário.

Problemas e hipóteses

Como problema central que orientou a elaboração deste ensaio discuto as homologias entre as obras literárias, na forma como foram lidas e recepcionadas por Pierre Bourdieu, com a sua obra sociológica. Dispersas em toda a obra de Bourdieu, encontramos citações de narrativas literárias sendo mobilizadas para ilustrar suas análises sociológicas como o fez citando passagens das obras de Balzac, Flaubert, Proust, Claude Simon, Virgínia Woolf e tantos outros autores. Desde a sua juventude as pesquisas teóricas e empíricas de Bourdieu, a começar pelas realizadas na Argélia, são informadas pelas obras literárias de forma mais frequente do que propriamente seria uma análise sociológica das obras literárias típicas de uma sociologia da literatura, encontrando nas “obras literarias indicaciones o vías de investigación prohibidas o disirlluladas por las censuras propias del campo científico (sobre todo estando, como lo estamos hoy día, dominados en las ciencias sociales por una filosofía positivista)” (BOURDIEU; WACQUANT, 1995, p. 152). Bourdieu também se dedicou à análise e interpretação sociológica da literatura, tomando a obra de Flaubert, especialmente o romance A educação sentimental, como objeto de investigação.

Em síntese, pode-se afirmar que a sociologia da literatura é uma dimensão importante na obra de Pierre Bourdieu, mas as narrativas literárias se fazem presentes de maneira mais frequente, com citações espalhadas em quase toda as suas obras sendo mobilizadas para ilustrar seus argumentos. Como afirmou Speller (2017, p. 175-176),

 “Bourdieu se inspirou em textos literários e escritores quando desenvolveu sua teoria. Ele encontrou soluções para os problemas de como comunicar entrevistas no estilo livre indireto de Flaubert. Ele foi inspirado por escritores que romperam com as narrativas lineares tradicionais, como Faulkner, nos Estados Unidos, e Robbe-Grillet, na França, para enxergar além das interpretações convencionais e relatos de histórias da vida. E ele encontrou na prosa em várias camadas de Proust, e na polionomasiologia de Flaubert, de Joyce ou de Faulkner, técnicas para ajudá-lo descrever a complexidade da realidade. O conceito-chave de Bourdieu, “campo’: foi, além disso, desenvolvido durante sua pesquisa sobre Literatura e cultura. Tudo isso prova que a Literatura e a Sociologia, embora opostas e, por vezes, conflitantes, têm muito a aprender uma com a outra”. 

A noção de campo social, por exemplo, já se encontra prenunciada por Balzac em Ilusões perdidas:

“A literatura está dividida, primeiro, em várias zonas, mas nossas sumidades estão repartidas em dois campos. Os escritores monarquistas são românticos, os liberais são clássicos. A divergência das opiniões literárias junta-se à divergência das opiniões políticas, e segue-se uma guerra com todas as armas, torrentes de tintas, sarcasmos a ferro afiado, calúnias pontiagudas, apelidos sangrentos, entre as glórias nascentes e as glórias decadentes. Por uma singular anomalia, os monarquistas românticos pedem a liberdade literária e a revogação das leis que dão formas convencionais à nossa literatura; ao passo que os liberais querem manter as unidades, o ritmo do alexandrino e as formas clássicas. Portanto, as opiniões literárias estão em desacordo, em cada campo, com as opiniões políticas”. (Balzac, 2010, p. 280)

Neste pequeno fragmento encontramos a representação das disputas estéticas e políticas entre os autores em busca de reconhecimento, que relegam os perdedores às posições consideradas ultrapassadas e decadentes. Na linguagem empregada por Bourdieu, Balzac realiza uma objetivação das estratégias de subversão, dos novos pretendentes ao ingresso no campo, reclamando seu direito de entrada, contra os já estabelecidos que se aferram às estratégias de conservação, defendendo as concepções dominantes visando a manutenção de sua posição no campo.

Nas páginas seguintes de Ilusões perdidas, o narrador apresenta o diálogo entre as personagens do jornalista e escritor Étienne Lousteau com Lucien de Rubempré, jovem poeta de origem provinciana e pobre que tenta se estabelecer na capital do País, repetindo a história “de mil a mil e duzentos jovens de província em Paris” (BALZAC, 2010, p. 246), situação vivida pelo próprio Bourdieu em sua juventude. O diálogo trata das relações de competição e conflito entre jornalistas, editores, livreiros, diretores de jornais, escritores, autores, atores, diretores, dramaturgos e empresários que lutavam entre si na  “horrível odisseia pela qual se chega a que se deve chamar, segundo os talentos, a voga, a moda, a reputação, o renome, a celebridade, a aceitação pública, esses diferentes degraus que levam à glória” (BALZAC, 2010, p. 290), prenunciando a disputa por reconhecimento social que Bourdieu denominaria como o capital simbólico em disputa no campo intelectual francês ainda em formação no século XIX.

A concepção segundo a qual a vida intelectual francesa era marcada pela luta entre os agentes em disputa no campo é enfatizada pelo próprio Balzac, que emprega literalmente o termo “campo” quando atribui ao experiente jornalista Lousteau a incumbência de advertir o jovem Lucien de Rubempré quanto aos sofrimentos que lhe serão impostos pelas situações conflituosas que encontrará pela frente ao se tornar também jornalista e escritor, e este responde resignado e confiante: “Lutar nesse campo ou em outro, terei de lutar.”  (BALZAC, 2010, p. 293) — “Lutter sur ce champ ou ailleurs, je dois lutter, dit Lucien”.

Bourdieu sistematiza essa noção de campo intelectual em seu ensaio “Campo intelectual e projeto criador”, publicado na França em 1966 e no Brasil em 1968, portanto, no início da formulação da teoria dos campos:

“Mas é no interior e por todo o sistema de relações sociais que o criador estabelece com o conjunto de agentes que constituem o campo intelectual num dado momento do tempo – outros artistas, críticos, intermediários entre o artista e o público, como os editores, os compradores de quadros ou os jornalistas encarregados de apreciar imediatamente as obras e torna-las conhecidas do público (e não de analisá-las cientificamente como o crítico propriamente dito), etc. – que se realiza a objetivação progressiva da intenção criadora, que se constitui esse senso público da obra do autor, pelo qual o autor é definido e em relação ao qual se deve definir”.  (BOURDIEU, 1968, p. 120)

Em uma citação que também pode ser considerada homóloga ao fragmento do romance Ilusões perdidas citado acima, o ensaio “Campo intelectual e projeto criador”, tem como epígrafe uma afirmação de Proust, em Sodoma e Gomorra, que também trata da relação de competição no interior do campo intelectual: “As teorias e as escolas se devoram reciprocamente, como os micróbios e os glóbulos, e asseguram por sua luta a continuidade da vida”.

Outros exemplos podem ser recordados para ilustrar a correspondência entre as obras literárias, a obra e até mesmo a trajetória de Pierre Bourdieu.. Em uma entrevista concedida à sua colaborada Yvette Delsaut, em novembro de 2001, dois meses antes do seu falecimento, questionado sobre alguns comportamentos aparentemente intransigentes de sua parte, Bourdieu responde: “O que me irrita um pouco é que possam crer que obedeço a uma irreprimível pulsão de gascão (que sem dúvida está presente em algumas de minhas manifestações, com freqüência um pouco fingidas…)  (BOURDIEU, 2005, p. 206). A rejeição a essa “pulsão de gascão” que Bourdieu se refere nesse trecho de sua entrevista pode ser considerado como uma rejeição às disposições atribuídas a um estereótipo dos falantes da variedade linguística do Sudoeste francês, a sua região natal, e que assim aparece caracterizada por Balzac em Ilusões perdidas: “Lucien tinha no mais alto grau o caráter gascão, astuto, corajoso, aventuroso, que exagera o bem e enfraquece o mal, que não recua diante de uma falha se ela o faz lucrar, e que menospreza o vício se dele pode fazer um degrau” (BALZAC, 2010, p. 40).

Adversários intelectuais e até alguns amigos atribuíam a Bourdieu essas disposições que Balzac coloca na personagem que é considerada o seu alter ego, Lucien de Rubempré, o protagonista de Ilusões perdidas. Jean-Claude Passeron, seu principal parceiro intelectual no início da carreira atribui ao amigo “a voracidade no exercício da profissão de pesquisador”, uma “obstinação impiedosa na conquista da notoriedade intelectual”, além de “seus abusos de autoridade” (PASSERON, 2005, p. 37).

Em seu Esboço de auto-análise Pierre Bourdieu realiza uma reflexão sobre o próprio habitus, assumindo algumas influências culturais atribuídas à sua origem regional:

“Sobretudo talvez pelo olhar dos outros, descobri aos poucos as particularidades de meu habitus, as quais, a exemplo de certa propenso ao orgulho e à ostentação masculinos, um gosto pronunciado pela querela, quase sempre um pouco encenada, a tendência a indignar-se “por ninharias”, hoje me parecem estar ligadas às particularidades culturais da minha região de origem, que fui percebendo e compreendendo melhor por analogia com o que lia a respeito do “temperamento” de minorias culturais ou linguísticas, como os irlandeses” (BOURDIEU, 2005, p. 113)

Além da influência regional, a origem familiar também compõe o exercício de reflexão de Bourdieu. De acordo com suas palavras, sua mãe era descendente de uma “grande família” camponesa e tinha uma grande “preocupação de respeitabilidade” e “respeito pelas convenções e pelas conveniências” (BOURDIEU, 2005, p. 112). A maneira como Bourdieu se identifica com Flaubert, assumindo essa identificação em seu Esboço de auto-análise, ao afirmar que “Flaubert ou Manet era alguém como eu”, não deixa dúvida quanto à associação da própria trajetória com a vida e a obra do romancista francês. O mesmo raciocínio realizado para identificar a influência de sua mãe em seu temperamento, Bourdieu emprega para interpretar a influência da mãe sobre Flaubert: “Essa mulher de cabeça forte, saída de uma família de pequena nobreza de província, transferira para seu filho todas as suas ambições de restabelecimento social” (BOURDIEU, 2002, p. 25).

A associação entre a própria trajetória com a do autor de A educação sentimental continua quando Bourdieu menciona as tristes lembranças de Flaubert do seu período de internato: “Desde os 12 anos colocaram-me em um colégio: ali vi o resumo do mundo, seus vícios em miniatura, seus germes de ridículo, suas pequenas paixões, suas pequenaS igrejinhas, sua pequena crueldade; vi o triunfo da força, misterioso emblema do poder de Deus” (Flaubert, citado por Bourdieu, 2002, p. 390). Em seu Esboço de auto-análise Bourdieu se inspira diretamente em Flaubert quando recorda as humilhações, as carências, as violências e a solidão sofridas durante o seu período de internato na cidade de Pau e depois em Paris: “[…] a experiência do internato desempenhou um papel determinante na formação de minhas disposições; principalmente pelo fato de me inclinar a uma visão realista (flaubertiana) e combativa das relações sociais…” (BOURDIEU, 2005, p. 118). Nesse período de sua vida, Bourdieu era chamado de “mau gênio”, chegando a receber mais de 300 suspensões e reprimendas durante sua vida escolar (BOURDIEU, 2005, p. 115)

Ao mencionar as personagens de Balzac, o jovem Eugene Rastignac, e de Flaubert, o jovem Frédéric Moreau, através da análise literária Bourdieu realiza indiretamente uma reflexão sobre sua própria trajetória, se referindo a personagens que vivenciaram condições sociais análogas às enfrentadas por ele no início de sua vida de jovem provinciano em Paris. Bourdieu chega a se referir “ao afluxo de uma população muito importante de jovens sem fortuna, oriundos das classes médias ou populares da capital e sobretudo da província, que vêm a Paris tentar carreiras de escritor ou de artista, até então mais estreitamente reservadas à nobreza ou à burguesia parisiense” (Bourdieu, 2002, p. 70), colocando em prática uma estratégia de busca de reconhecimento intelectual e de uma mobilidade social ascendente análoga à estratégia realizada por ele.

Na obra As regras da arte, publicada pela primeira vez em 1992, um estudo de P.G. Castex sobre A educação sentimental, é citado por Bourdieu, para recordar a atitude de Rastignac, que sonha em ser sepultado um dia no prestigioso cemitério Père Lachaise, como um desafio que um jovem provinciano “pequeno burguês em ascensão” lança à capital Paris (Bourdieu, 2002, p. 392), curiosamente se referindo ao mesmo cemitério que Bourdieu viria a ser sepultado dez anos depois.

As formas de percepção e representação da realidade presentes nas obras de Balzac, Flaubert e Proust exercem uma grande influência sobre a percepção da realidade e sobre a reflexão a respeito da própria trajetória realizadas por Bourdieu. Mas também ocorre que a trajetória de Bourdieu o leva a selecionar e considerar aqueles autores e obras com os quais se identifica.

Justificativas

Investigar a presença da literatura na obra de Pierre Bourdieu é uma tentativa de demonstrar que embora com abordagens diferentes a literatura e as ciências sociais podem ser intercambiadas na construção do conhecimento, possibilitando que os pesquisadores científicos elaborem hipóteses a partir da representação das relações entre personagens de uma narrativa, de suas intuições e sentimentos na forma como foram expressos pelos autores. Para Bourdieu, mesmo como registros diferentes, entre literatura e sociologia não existe uma “oposição irredutível” (BOURDIEU; WACQUANT; 1995, p. 152). Ao escrever sobre A dominação masculina, por exemplo, Bourdieu se inspirou “na lucidez inquieta e indulgente” dos romances de Virgínia Woolf, segundo ele, “seria preciso toda a acuidade de Virgínia Woolf e o infinito refinamento de sua escritura para levar até as últimas consequências a análise de uma forma de dominação inscrita em toda a ordem social e operando na obscuridade dos corpos, que são ao mesmo tempo lugares de investimento e princípios de sua eficácia”. (Bourdieu, 2003, p. 99).

Os escritores também podem se inspirar nos conhecimentos verificados através dos métodos científicos para a elaboração de suas narrativas. Mas Speller (2017, p. 113) chega a considerar que “os escritores estão, em certo sentido, à frente dos sociólogos na medida em que já romperam com a cronologia, com a ordem lógica dos acontecimentos e com narrativas unilineares que, em nossa memória subjetiva e experiência, podem ser borradas e ambíguas”.

A complementaridade entre os conhecimentos presentes na sociologia e na literatura foi abordada por Pierre Bourdieu (2011, p. 75-77) ao realizar uma “tradução em linguagem sociológica do conteúdo de A educação sentimental”, de Flaubert, obra na qual o autor, ao buscar “dizer a verdade sobre o mundo social”, evidencia de forma realista a estrutura social vigente, incluindo as estratégias de dominação das classes dominantes. “E é isso sem dúvida que faz com que a obra literária possa por vezes dizer mais, mesmo sobre o mundo social, que muitos escritos com pretensão científica” (Bourdieu, 2002, p. 48).

“En resumidas cuentas, creo que la literatura, contra la cual numerosos sociólogos, desde el principio y aún en la actualidad, han creído y creen que deben reafirmar el carácter científico de su disciplina (como lo explica Wolf Lepenies  [1991]  en Les Trois Cultures), está más adelantada, desde varios puntos de vista, que las ciencias sociales y encierra todo un acervo de problemas fundamentales —por ejemplo, la teoría de la narración— que los sociólogos deberían esforzarse por retomar y poner en tela de juicio, en vez de guardar ostentatoriamente sus distancias con respecto a formas de expresión y de pensamiento que ellos juzgan comprometedoras”. (Bourdieu; Wacqant, 1995, p. 152-153).

A literatura pode expressar a experiência individual como dotada de significados que transcendem sua singularidade, como uma representação figural da complexidade das relações sociais em um contexto histórico.  Mas como Bourdieu também sugere, “o encanto da obra literária deve-se sem dúvida, em grande parte, a que fale das coisas mais sérias sem pedir”, e por isso o narrador pode até se afastar da sequência de sua narrativa para apresentar uma digressão que sintetize o seu pensamento. É o que faz Flaubert, por exemplo, quando deixa momentaneamente de lado as dificuldades amorosas enfrentadas pelo protagonista de A educação sentimental, para apresentar ao leitor, em estilo ensaístico, um raciocínio que podemos considerar homólogo à teoria da alienação do jovem Marx, afirmando que “há situações em que o menos cruel dos homens se acha tão alheado dos outros, que era capaz de assistir, sem a menor emoção, ao desaparecimento do gênero humano” (FLAUBERT, 1959b, p. 92 )

A leitura sociológica de uma obra literária pode, assim, evidenciar o que o autor apresentou de forma difusa, metafórica, alegórica ou figural em uma narrativa. Por empregar a forma artística ficcional, o texto literário pode abordar aspectos da realidade social que ficariam vedados às metodologias empregas pelas ciências sociais.

No diálogo que realizou com Roger Chartier, Bourdieu (2011, p. 75), também se refere a Balzac como um autor que “chegou a considerar-se sociólogo, reivindicou tal qualificativo”, mas para ele foi Flaubert “o inventor da sociologia, o mais sociólogo dos romancistas” e, ainda, “o mais realista, do ponto de vista sociológico”.

Para Roger Chartier essa relação entre sociologia e literatura não deixa de ser problemática:

“[…] em determinado momento, quando o discurso sociológico não está constituído como tal, a literatura – ou, talvez, outras produções simbólicas – ocupa todo o terreno. Ela é, ao mesmo tempo, literatura e, de algum modo, sociologia. A partir do momento em que se entra em uma situação de competição, concorrência e dualismo, a sociologia pode ser estigmatizada como um discurso inferior, uma vez que ela é incapaz de traduzir na linguagem mais legítima, que é a da literatura, objetos que não deixam de ser comum a ambas.” (CHARTIER, In BOURDIEU; CHARTIER, 2011, p. 78)

Bourdieu (2011, p. 79) também avalia que “os romancistas estão, muitas vezes, adiantados, por exemplo, na compreensão das estruturas temporais, na compreensão das estruturas da narrativa, na compreensão dos usos da linguagem”, em relação aos sociólogos, que, em seu trabalho, necessitam da exposição descritiva e controlada das evidências empíricas buscadas para testar suas hipóteses diretrizes.

Objetivos

Como objetivos que orientaram a elaboração deste ensaio, através da investigação das homologias entre as obras literárias e as obras científicas das ciências sociais, mesmo que minimamente, buscamos contribuir para a superação das barreiras disciplinares que dificultam a construção do conhecimento sobre as relações sociais. Com os procedimentos adotados poderemos estabelecer as correspondências entre a teoria e as pesquisas sociológicas de Bourdieu com as obras literárias.

Do ponto de vista educativo, o desenvolvimento desta pesquisa visa demonstrar como o acesso às fontes literárias é uma dimensão muito importante nos processos formativos, pois como afirmou Antonio Cândido a literatura é uma necessidade universal imperiosa e um direito das pessoas de qualquer sociedade, por considerá-la fundamental a um processo de humanização que confirme “no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor…” (MELLO E SOUZA, 1986, p. 117). Concebidos como uma modalidade de sistema simbólico de comunicação intersubjetiva, os romances abordados envolvem “…um comunicante, no caso o artista, um comunicado, ou seja, a obra; um comunicando, que é o público a que se dirige; graças a isso define-se o quarto elemento do processo, isto é, o seu efeito”. (MELLO E SOUZA, 2000: 20). Este último, no momento de elaboração da obra, só pode ser virtual, uma intenção do autor, consciente ou não, muito embora seja presumido neste estudo como pedagógico. (PRAXEDES, 2001, p. 13)

Metodologia

A metodologia empregada nesta pesquisa foi amplamente desenvolvida na sociologia da literatura de Pierre Bourdieu, notadamente presente em sua obra As regras da arte (BOURDIEU, 2002). Por outro lado, dando continuidade à pesquisa que nos levou à elaboração da tese de doutorado “Elucidação pedagógica, história e identidade nos romances de José Saramago” (PRAXEDES 2001), o método de investigação adotado é um empréstimo do pensamento de Lucien Goldmann (1967) que propôs em sua obra a pesquisa sobre as homologias existentes entre as correntes intelectuais, as criações literárias e a realidade social e histórica moderna. Como mencionamos anteriormente (PRAXEDES, 2001, p. 15), para Goldman existe “…na história da cultura ocidental, uma relação de homologia, assaz estrita, entre as grandes correntes filosóficas e as grandes criações literárias” (GOLDMANN, 1972: 33). Segundo este autor, através da forma romanesca realiza-se “…a transposição para o plano literário da vida cotidiana na sociedade individualista nascida da produção para o mercado. Existe uma homologia rigorosa entre a forma literária do romance, tal como acabamos de definir, e a relação cotidiana dos homens com os bens em geral; e, por extensão, dos homens com os outros homens, numa sociedade produtora para o mercado (GOLDMANN, 1967: 16).

Como procurei demonstrar com a comparação das passagens citadas da obra Ilusões perdidas, de Balzac, e do ensaio de Bourdieu “Campo intelectual e projeto criador” através da investigação dessas fontes pudemos perceber as homologias entre a formulação inicial da teoria sociológica dos campos e a representação do universo intelectual parisiense exposta por Balzac em Ilusões perdidas. Conforme escreveu Speller (2017, p. 114), para Alain Caillé “a obra de Bourdieu seria uma espécie de continuação sociológica de La Comédie humaine, de Balzac”.

Posteriormente Bourdieu expressou sua insatisfação com essa primeira formulação de sua teoria, considerando que a mesma enfatizava excessivamente a importância das interações entre os agentes em relação no interior dos campos, em detrimento da formulação que ele passou a considerar mais apropriada para a sua teoria, que prioriza a representação das “relações objetivas entre as posições relativas que uns e outros ocupam no campo, ou seja, a estrutura que determina a forma das interações” (Bourdieu, 2002, p.  208).

Nos textos e entrevistas concedidas por Bourdieu constantemente nos deparamos com representações que ele formula sobre as situações e as relações sociais que podem ser encontradas tanto diretamente nas obras literárias, como simplesmente inspiradas pela leitura dessas obras. O que considero interessante destacar nessa intertextualidade entre as obras literárias e a obra de Bourdieu é, sem dúvida, a presença de uma cultura livresca literária na formação do seu habitus, mas também a maneira como o autor seleciona fragmentos das obras lidas por ele que podem ser relacionados com a sua própria trajetória e experiências de vida.  Através da análise literária Bourdieu realiza uma reflexão sobre a própria trajetória. Outro aspecto da maneira como Bourdieu elabora suas representações, é percebermos como tais representações são referidas ou inspiradas no repertório intelectual proporcionado pela vivência na cultura francesa e que por isso também aparecem expressas nas obras da literatura francesa.

Considero relevante a “leitura sistemática da representação do mundo social subjacente” às obras literárias, como sugere Florent Champy (2000, p. 346) em relação à obra de Marcel Proust. Mas seria um equívoco considerar o estudo de uma criação literária como se fosse a observação, análise e interpretação de uma sociedade existente, ou que apenas as grandes narrativas literárias modernas da Europa conseguem representar a realidade de forma relevante. Um aspecto que torna relevante uma obra de literatura é a representação construída pelo autor e que pode ser considerada homóloga às representações que constam nas obras científicas, contribuindo, assim, para que sejam transpostas as fronteiras entre as diferentes modalidades de produção de conhecimento.

Como salienta Boaventura de Sousa Santos (2008, p. 86-87), na construção de um novo paradigma de conhecimento, a criação científica “assume-se como próxima da criação literária ou artística, porque à semelhança destas pretende que a dimensão activa da transformação do real (o escultor a trabalhar a pedra) seja subordinada à contemplação do resultado (a obra de arte). Por sua vez, o discurso científico aproximar-se-á cada vez mais do discurso da crítica literária.”

Podemos, então, verificar inúmeras homologias existentes entre as representações científicas presentes na obra de Pierre Bourdieu com as representações expressas nas obras literárias, mas não para atestar a coincidências entre as mesmas, e sim para problematizar as relações entre as diferentes modalidades de representação do real.

As representações construídas por Balzac, Victor Hugo, Flaubert, Zola e Proust, por exemplo, salientam como a sociedade francesa é profundamente desigual e hierarquizada em obras que são contemporâneas à criação da sociologia na França. Em sua obra, Pierre Bourdieu combina a busca da representação realista através da literatura com a construção de uma metodologia para a investigação científica da realidade social. A profissão de sociólogo, obra dedicada à reflexão sobre os fundamentos da atividade de pesquisa social, publicada pela primeira vez em 1968, se inicia com uma longa citação de um texto de Augusto Comte, em que o fundador da sociologia propõe que “o método não pode ser estudado separadamente das pesquisas nas quais é utilizado”, afirmação que Bourdieu concorda, afirmando, logo em seguida à citação, que “nada haveria de acrescentar a esse texto” (Bourdieu, 1999, p.7-8)

As ciências sociais representam a realidade com base na construção de conceitos, problemas e verificação de hipóteses nas evidências empíricas observadas na realidade e que também são construídas como relevantes, de acordo com os pressupostos metodológicos adotados.  Por outro lado, as representações construídas em uma obra literária da perspectiva intuitiva e ficcional do autor também podem levar em consideração as evidências observadas na realidade, como fica demonstrado pelas pesquisas prévias realizadas pelos romancistas citados, antes da escritura de suas obras.

Referências

AUERBACH, Erich. Mimesis. São Paulo, Perspectiva, 2013.

BALZAC, Honoré de. Ilusões perdidas. 2 Vol. São Paulo, Abril, 2010.

BOURDIEU, Pierre. Campo intelectual e projeto criador. In: POUILLON, Jean. Problemas do estruturalismo. Rio de Janeiro, Zahar, 1968.

_____. Leçon sur la leçon. Paris, Édition de Minuit, 1982.

_____. Questões de sociologia. Rio de Janeiro, Marco Zero, 1983. _____. La noblesse d´État. Paris, Minuit, 1989.

_____. Homo academicus. Paris, Minuit, 1984.

_____. Homo academicus. Florianópolis, Ed. UFSC, 2011.

_____. Ontologia política de Martin Heidegger. Campinas, Papirus, 1989.

_____. O campo científico. In: Pierre Bourdieu. Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo, Ática, 1994.

_____. Esboço de uma teoria da prática. In: Pierre Bourdieu. Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo, Ática, 1994.

_____. A economia das trocas simbólicas. São Paulo, Perspectiva, 1992a.

_____. Razões práticas. Campinas, Papirus, 1996.

_____. A economia das trocas linguísticas — O que falar quer dizer. São Paulo, Edusp, 1996. _____. Sobre a televisão. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1997a.

_____. Escritos de educação. Petrópolis, Vozes, 1998.

_____. Contrafogos — Táticas para enfrentar a invasão liberal. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1998.

_____. Esquisse d´une théorie de la pratique. Paris, Éditions du Seuil, 2000.

_____. O campo econômico: a dimensão simbólica da dominação. Campinas, Papirus, 2000. _____. O poder simbólico. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2001.

_____. As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário. São Paulo, Companhia das Letras, 2002.

_____. (Coord.). A miséria do mundo. Petrópolis, Vozes, 1997.

______. et al. O amor pela arte — Os museus de arte na Europa e seu público. São Paulo/Porto Alegre, Edusp/Zouk, 2003.

______.  A dominação masculina. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2003a.

_____. Os usos sociais da ciência — Por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo, Editora Unesp, 2004.

_____. Coisas ditas. São Paulo, Brasiliense, 2004.

_____. Para uma sociologia da ciência. Lisboa, Edições 70, 2004a.

_____. Esboço de auto-análise. São Paulo, Companhia das Letras, 2005.

_____. Meditações pascalianas. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2007.

_____. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo/Porto Alegre, Edusp/Zouk, 2007b.

_____. Las estructuras sociales de la economía. Buenos Aires, Manantial, 2008.

_____. O senso prático. Petrópolis, Vozes, 2009.

_____. La eficácia simbólica — Religión y política. Buenos Aires, Biblos, 2009a.

_____. Capital cultural, escuela y espacio social. Buenos Aires, Siglo Veintiuno Editores, 2010.

______. Le bal des célibataires – Crise de la societé paysanne em Béarn. Paris, Éditions du Seuil, 2002.

______. Entrevista de Pierre Bourdieu com Yvette Delsaut: Sobre o espírito da pesquisa, pp. 175-210Tempo Social, Revista de sociologia da USP, v. 17, n. 1, São Paulo, junho   2005.

______. La nobleza de estado – educación de elite y espíritu de cuerpo. Buenos Aires, Siglo Veintiuno editores, 2013.

______. Sociologie générale. Volume 1. Cours au Collège de France 1981-1983, Paris, Seuil, 2015.

BOURDIEU, P. WACQUANT, Loic J.D. Respuestas por uma antropología reflexiva. Mexico, DF, Grijalbo, 1995. p. 152-153.

BOURDIEU, Pierre, CHAMBOREDON, Jean-Claude, PASSERON, Jean-Claude. A profissão de sociólogo — preliminares epistemológicas. Petrópolis, Vozes, 1999.

BOURDIEU, P., CHATIER, R. O sociólogo e o historiador. Belo Horizonte, Autêntica, 2011.

BOURDIEU, P., HAACKE, H. Livre troca — diálogos entre ciência e arte. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1995.

Bourdieu, Pierre, Passeron, Jean-Claude. A reprodução. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1992.

_____. Los herederos: los estudiantes y la cultura. Buenos Aires, Siglo XXI Editores Argentina, 2006.

CHAMPY, Florent. Littérature, sociologie et sociologie de la littérature. À propos de lectures sociologiques de À la recherche du temps perdu . In: Revue française de sociologie, 2000, 41-2. pp. 345-364; http://www.persee.fr/doc/rfsoc_0035-2969_2000_num_41_2_5266

CARDOSO DE LIMA, João Daniel. Ficções sociológicas – três estudos de interpretação literária. Universidade de Brasília. Instituto de Ciências Sociais. Departamento de Sociologia. Brasília, 2009. (Dissertação de Mestrado).

CASANOVA, Pascale.  A República Mundial das Letras. São Paulo : Estação Liberdade, 2002.

ENCREVE, Pierre, LAGRAVE, Rose-Marie. Trabalhar com Bourdieu. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2005.

FLAUBERT, G. A educação sentimental. Vol1. São Paulo, DIFEL, 1959.

______. A educação sentimental. Vol. 2. São Paulo, DIFEL, 1959b.

PASSERON, J. Morte de um amigo, fim de um pensador. In: ENCREVÉ, P.; LAGRAVE, R. Trabalhar com Bourdieu. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005, p. 17-91

PINTO, Louis. Pierre Bourdieu e a teoria do mundo social. Rio de Janeiro, Editora FGV, 2000.

GOLDMANN, Lucien. Sociologia do romance. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1967. 223 p.

JURT, Joseph. De Lanson à teoria do campo literário. In: Revista Tempo Social USP. São Paulo, junho 2004.

LAHIRE, Bernard. A cultura dos indivíduos. Porto Alegre, Artmed, 2006.

MARTINS, Maurício Vieira. Bourdieu e o fenômeno estético: ganhos e limites de seu conceito de campo literário. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS – VOL. 19 Nº . 56. São Paulo, outubro, 2004.

MELLO E SOUZA, Antonio Candido de. Literatura e Sociedade. São Paulo, T. A. Queiroz, Publifolha, 2000, pp. 182.

_____ (1986). Direitos humanos e literatura. In: Direitos humanos e… São Paulo, Brasiliense, pp.107-126.

PRAXEDES, Walter Lúcio de Alencar. Elucidação pedagógica, história e identidade nos romances de José Saramago. Universidade de São Paulo, Faculdade de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação. São Paulo, 2001. (Tese de doutorado)

______. A educação reflexiva na teoria social de Pierre Bourdieu. São Paulo, Loyola, 2015.

PROUST, M. Sodome et gomorrhe. Disponível em: www.LaRecherche.it

______. Sodoma e Gomorra. V. 4 Tradução de Mario Quintana. Porto Alegre, Rio de Janeiro, Editora Globo, 1983.

______. A fugitiva. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. São Paulo, Globo, 1995.

SANTOS, Boaventura de Sousa Um discurso sobre as ciências. São Paulo : Cortez, 2008.

SPELLER, John R. W. Bourdieu e a literatura. Teresina, EDUFPI, 2017.

Resumo

“A presença da literatura na obra de Pierre Bourdieu” é um projeto de pesquisa teórica que parte do pressuposto de que as ciências sociais e a literatura, embora com abordagens diferentes, podem ser combinadas na construção do conhecimento sobre o mundo social. A partir do enfoque próprio da sociologia da literatura, investigaremos como problema central quais as homologias que podem ser estabelecidas entre a obra do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002) e a literatura.  Para Bourdieu (2002, p 48), a obra literária pode “por vezes dizer mais, mesmo sobre o mundo social, que muitos escritos com pretensão científica”. A partir da verificação da hipótese de que ocorrem inúmeras interações e correspondências entre a obra de Bourdieu e a literatura, buscamos alcançar os objetivos de contribuir para a superação das barreiras disciplinares que frequentemente separam a arte e a ciência, dificultando, assim, a construção do conhecimento sobre as relações sociais; e, de uma perspectiva educativa, demonstrar como o acesso às obras literárias é também uma dimensão muito importante nos processos educativos e de construção do conhecimento científico. A investigação proposta neste projeto de pesquisa será realizada através da análise e interpretação de fontes bibliográficas, envolvendo narrativas literárias publicadas em livros, artigos científicos, ensaios, dissertações e teses acadêmicas e livros. A metodologia empregada nesta pesquisa aborda as homologias existentes entre as correntes intelectuais, as criações literárias e a realidade social e histórica moderna.

 

Palavras-chave: Sociologia; Literatura; Homologias; Pierre Bourdieu.